Um local onde é possível voltar no tempo e imaginar como a cidade começou. Caminhar entre os miolos de quadras, às margens do Ribeirão Garcia e por trás das antigas construções, é como estar em outro lugar, longe do barulho e da confusão de uma cidade grande e desenvolvida. Estive diversas vezes na Rua das Palmeiras buscando observar cada detalhe e sentir o que esse local é capaz de transmitir. O resultado foi surpreendente para mim, o Parque Foz do Ribeirão Garcia é um local que poucas pessoas conhecem, uma área verde cheia de potencial as margens do Ribeirão onde ainda é possível sentir a natureza e ouvir o canto dos pássaros. Um lugar capaz de transmitir tranqüilidade e ao mesmo tempo insegurança por estar abandonado, sem os cuidados necessários.
Por trás do Museu da Família Colonial, do Arquivo Histórico José Ferreira da Silva e Biblioteca Municipal Dr. Fritz Muller e da Fundação cultural o verde do parque continua a se estender e nesse ponto já foi possível sentir o ar bucólico dos fundos de quintais das antigas residências com varandas voltadas para uma massa verde e adentro desta o cemitério dos gatos de Edith Gaertner completa a sensação com seus caminhos estreitos e cantinhos com mesas e bancos onde é possível relaxar ao som das águas do ribeirão.
A antiga prefeitura atual fundação cultural de Blumenau possui uma grande abertura na edificação, um corredor que encontra-se fechado e que nos leva da agitada Rua XV de Novembro direto a um espaço aberto com todo esse verde de fundo.
Foi nesse momento de percepção que surgiram as primeiras idéias. Resgatar a história da primeira rua onde a cidade começou a ser desenvolvida, trazer vida para um local que hoje é apenas um corredor de passagem de veículos e que não possui a relevância que deveria ter.
Aliar lazer e cultura, ampliando a área do Parque e atualizando o conceito de biblioteca com a proposta de uma Midiateca que vêm a inserir a tecnologia e interatividade, que hoje é tão necessária e faz parte do cotidiano das pessoas, além de atrair o público jovem. Dar uso e assumir como parte integrante da cidade as edificações históricas que existem na primeira quadra da Rua XV de Novembro, proporcionar a diversidade de usos possibilitando habitação, comércio, prestações de serviço numa mesma área, são todas essas as diretrizes que acredito que tornarão nossas cidades mais humanas, com mais raízes, mais história, mais vida e sentido.
A proposta para o espaço como um todo foi a ampliação e criação de um extenso parque urbano preservando a vegetação existente das margens do Ribeirão Garcia e incorporando o Centro Histórico até a margem do Rio Itajaí-Açu e mediações da Praça Hercílio Luz. Através deste foram gerados novos eixos de circulação e novos pontos de encontro, além da integração com os edifícios históricos culturais existentes.
Procurando manter cada elemento histórico em seu devido lugar e respeitando a atmosfera que os espaços seriam capazes de proporcionar, propus a retirada dos elementos que não agregavam valor arquitetônico nem se enquadravam na paisagem do local. Desta forma foi possível visualizar da Rua das Palmeiras a área do Parque Municipal Foz do Ribeirão Garcia, antes não era percebido.
A edificação do arquivo Histórico de Blumenau permaneceu inalterada e logo atrás, anexada a esta foi proposta duas edificações que concentram diferentes usos e que se interligam através de passarelas interativas. A idéia foi permitir sempre a permeabilidade visual mantendo os pavimentos térreos livres para passagem e chegada na praça projetada entre as edificações. Provocar a curiosidade de quem estivesse na Rua das Palmeiras através das passarelas iluminadas também fazia parte do contexto. A praça tem como objetivo causar sensações lúdicas e oferecer diversas atividades e manifestações culturais, com um cinema ao ar livre. A biblioteca foi proposta ao lado da vegetação mais concentrada, o lado que nos transmite mais tranqüilidade. Nessa edificação procurei resgatar a memória dos fundos de quintais com as caixas de vidro e madeira projetadas para cima das árvores. Do outro lado, passando pelas passarelas com telas interativas foi proposta a midiateca como um espaço mais tecnológico.
Hoje a proposta real para essa área do Centro Histórico começa a tomar um rumo bem diferente. O parque Foz do Ribeirão Garcia deve ser fechado esta semana devido ao vandalismo existente em toda área. O que podemos esperar é uma mudança de visão, com um olhar para descoberta de riquezas históricas, capaz de mudar o rumo das cidades, com estratégias que gerem diversidade de usos, movimentação constante de pessoas e tornem as nossas cidades locais mais seguros e humanos para se viver.
Arq.Renata Rebelo
Um comentário:
Adorei a matéria! Cheia de história, sensibilidade e de propósitos embasados na cultura da cidade com um olhar de um futuro, que esperamos, seja próximo e próspero!
Parabéns pela publicação!
Arqta. Valéria Tonietto
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