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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A cidade desumana

IVO THEIS - professor FURB

Junto-me aos apelos de Christian Krambeck. Em “Uma ideia, um desafio”, publicado na edição de ontem do Santa, faz nova tentativa de convencer seus leitores e interlocutores da necessidade de humanizar a Aldeia. É um desafio e tanto o de “inverter a perversa lógica que dominou o desenvolvimento das cidades (inclusive, Blumenau) nos últimos 40 anos”. É um desafio mudar as coisas na Aldeia devido a muitas razões. De minha parte, estou quase convencido de que uma delas é que “nada precisa mudar”. Parece que tudo está bem assim como está.

Aliás, a ordem tem sido de elogiar a cidade. Dizer que é bela. Que é florida e sua natureza, exuberante. Que sua gente é ordeira, educada e limpa. Além de bonita, saudável e feliz. Que recebe visitantes de braços abertos. Que, enfim, é diferente. Interpreto assim: essa cidade não precisa mudar.

Mas, uma cidade não é, sempre, muitas cidades? Não há, sempre, um pouco de cada uma das cidades invisíveis de Ítalo Calvino em cada cidade real? Então: é possível defender que a Aldeia é diferente? Que não precisa mudar?

De fato, a maioria da gente que nela vive é simples, humilde e trabalhadeira. Outra parte (a minoria, felizmente) tem nariz empinado e é esnobe e preguiçosa. E nem se trata daquela preguiça boa, dos índios. Trata-se da de quem suja, mas manda os outros limparem. De fato, a paisagem aldeã é aprazível. Ainda. Porque a especulação imobiliária vai devastando, aceleradamente, o que resta de natureza. A Aldeia é cada vez mais asfalto e concreto. E cada vez menos paisagem aprazível – isto é: rios limpos, ar respirável, árvores.

Na verdade, a Aldeia é bela para poucos, para a minoria de esnobes. Para os que preferem carros, luzes e shoppings. Não para quem paga tarifa elevada de ônibus e mora distante do local de trabalho. Aliás, não para quem trabalha.

Faz tempo que para muitos moradores de alguns bairros periféricos a cidade não é mais humana. Isso, porém, não importa para a minoria que manda os outros, a maioria, limparem a sujeira que fazem. A seu modo, humanizam a Aldeia. Subtraindo mais umas árvores – depois da Beira-Rio, agora da Rua 7. Limpando, esteticamente, fachadas de shopping e expelindo, higienicamente, ambulantes. Ou será o contrário.

Publicado no Santa do dia 19 de novembro de 2010, na coluna semanal da sexta.

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